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Série Sustentabilidade: Sustentabilidade de ponta a ponta

Empresária cria, recria e transforma objetos descartáveis em
Por Assessoria Sebrae/MT - Daniel Pettengil
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Mesmo quando o conceito de sustentabilidade não ultrapassava o nível da teoria, ainda distante da rotina comercial de qualquer negócio, a empresária Dilamar Coutinho já fazia a sua parte. Mais do que isso: aliava o instinto natural de reaproveitar materiais e resíduos – e construir produtos novos – ao caráter social do procedimento. “Precisava dar uma ocupação ao meu pai, que estava ficando ocioso e triste. Foi quando o convidei a dar uma destinação às garrafas pet que se acumulavam em casa”, lembra.

Naquela época, o bairro onde moravam sofria com a interrupção frequente no fornecimento de água encanada e era necessário armazenar certas quantidades para lavar roupa e louça, por exemplo. Com isso, as embalagens ficavam empilhadas num canto do quintal. Com a criatividade que sempre a acompanhou e o talento para o artesanato, Dilamar começou a fazer experiências. Joga água quente no material, puxa aqui, recorta ali, pronto! De repente o resto de garrafa se torna um belo brinco ou um utensílio doméstico. Seu pai cumpria a importante função de higienizar e preparar os objetos para o processo produtivo.

Dilamar Coutinho, empresária.

“Foi então que alguém me convidou para fazer um curso no Sebrae, sobre uma tal sustentabilidade. O que era aquilo? Me explicaram o conceito de uma forma ampla e descobri que eu já estava praticando”, empolga-se a empresária ao lembrar do curso que foi decisivo para orientar seus próximos passos. Dona de uma loja aberta ainda na década de 1980, Dilamar conta com uma clientela sólida e fiel. E continua conquistando mais ‘compradores admiradores’, mesmo investindo quase nada em divulgação. Dilamar vende peças únicas, personalizadas e o mais importante para ela: que carregam uma história e um significado por trás de tudo.

Desde então, ela tem diversificado o mix de produtos sustentáveis. Parte de seus clientes se tornou também fornecedor de resíduos que se transformam em matéria-prima.

“Minha história com o Sebrae existe há 34 anos e vai permanecer. Acompanhei a criação do Centro Sebrae de Sustentabilidade e me sinto em casa aqui”, expressa Dilamar, que aproveitou a entrevista para visitar novamente o prédio e rever os amigos. Ela considera como marcantes em sua caminhada os ensinamentos apreendidos no curso de atendimento ao público, o primeiro oferecido pelo Sebrae, quando a empresária abria as portas de sua loja há mais de 3 décadas. Naquela época, ela deixava uma estável e disputada carreira de concursada no Banco da Amazônia para dar vazão à paixão antiga pelo artesanato.

A apoteose para Dilamar veio com um desfile de roupas produzidas a partir de materiais reaproveitados, realizado num shopping de Cuiabá. Uma modelo usou um vestido de noiva confeccionado pela empresária com pedaços de garrafas pet e a reação do público foi empolgante. Aquele momento representou, para ela, a quebra de um preconceito com as peças que produzia. Dilamar ‘provava’ para os mais céticos que a economia circular é muito útil para a indústria da moda. E tem muita qualidade. Não por acaso, os pedidos para a produção de acessórios multiplicaram-se rapidamente.

De tanto praticar os conceitos de sustentabilidade no seu dia a dia e acumular horas de cursos e capacitações, Dilamar Coutinho passou a contar sua história e a orientar estudantes, micro e pequenos empresários sobre a importância das práticas sustentáveis em qualquer área profissional e também em suas vidas particulares. A empresária faz questão de atender a todos os convites para compartilhar sua experiência. Já palestrou em unidades de ensino, casas religiosas, empresas e em eventos dentro e fora de Mato Grosso. “A sustentabilidade atinge todos os pilares da minha vida, o social, ambiental, financeiro, até mesmo o espiritual. Não sei viver de outra forma”, complementa.

Esforço para mudar mentalidades

O exemplo de Dilamar mostra que o trabalho de conscientização sobre sustentabilidade se torna mais ‘leve’ quando o empreendedor já, intuitivamente, carrega consigo esses conceitos, reconhece a diretora técnica do Sebrae Mato Grosso, Eliane Chaves. “Temos exemplos de empresários que já trazem na sua filosofia de vida, na sua história pessoal essa sensibilidade de entender que pode e deve contribuir para ter, a partir de sua empresa, uma contribuição mais positiva para a sociedade, para o planeta”, diz.

Eliane Chaves, Diretora técnica do Sebrae Mato Grosso.

E os hábitos pessoais de otimizar o uso da água, da energia e fazer o descarte correto do lixo, são transportados com mais facilidade para o ambiente dos negócios. “Assim, quando o proprietário de um pequeno negócio vai fazer o projeto de uma nova sede, por exemplo, já procura a torneira, a energia, dentro dos princípios da racionalidade, independentemente de lucro”, acrescenta Eliane. Mas como a construção cultural nem sempre permite que a aplicação dos conceitos sustentáveis seja automática, o Sebrae entra em ação para orientar de forma abrangente não apenas o empreendedor, mas gerar uma onda de conscientização geral na sociedade. E o trabalho é desenvolvido nos mais diferentes níveis, abrangendo também os responsáveis por tomadas de decisão.

“Nosso papel é tentar conscientizar as pessoas, líderes, empresários, novos empreendedores a ter essa visão de conexão com os grandes avanços, sejam pequenos ou macro. Fazemos um trabalho junto com os gestores públicos no sentido de formar redes, contemplando ecossistemas de inovação, de modo a incentivar o empreendedorismo e novas oportunidades, todos baseados na vertente da sustentabilidade, nos desafios globais”.

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