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Série Sustentabilidade: Cultura do desapego muda postura da clientela e reinventa brechó

Empresária reabre loja apostando em sistema de trocas de peças de roupa e inverte lógica do consumismo
Por Assessoria Sebrae/MT - Daniel Pettengil
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Exercitar o desapego por coisas materiais deixou de ser apenas um mantra pessoal para a empresária Adriana Nóbrega Guimarães. Dona de um brechó de roupas em João Pessoa (PB), a empreendedora irradiou por sua clientela a filosofia da ‘moda circular’ e vem gerando uma onda de transformação na comunidade. Depois de fechar a loja Jardim das Margaridas por 3 meses durante a pandemia, abrindo mão até das vendas online, ela decidiu resgatar uma ideia pontual, colocada em prática como experiência durante um fim de semana, ainda em 2019. Era uma espécie de clube de trocas de peças de roupa, uma ação entre amigas que acabou fazendo muito sucesso. “Durante a quarentena, fiquei refletindo sobre o que fazer de diferente para retomar meus negócios. Lembrei do clube de trocas e tentei torná-lo permanente”, relata Adriana.

Adriana Nóbrega Guimarães, empresária.

Surgia ali o ‘Trocadim’, um sistema que estimula as compradoras a levar para casa diversas opções de vestuário a preços módicos, desde que tragam de casa peças particulares que estejam dispostas a doar. Exemplificando, uma cliente doa 3 peças de roupas e pode adquirir igual quantidade, pagando um preço fixo unitário de R$ 15. O espaço para o projeto que começou tímido, num canto do brechó, hoje é carro-chefe do negócio, respondendo por mais de 90% do faturamento mensal. Os resultados vieram rápido e Adriana celebra, sobretudo, a ‘inversão da lógica’ de consumo, baseada no afastamento da cultura do acúmulo de bens materiais e no incentivo à uma postura sustentável individual e coletiva.

“É lindo ver a transformação na vida das clientes, porque o desapego traz leveza, elimina a angústia. Prego o capitalismo consciente, que de fato agrega valor na comunidade”, acrescenta a empresária, que é formada em Psicologia e aplica os conhecimentos no dia a dia. Adriana considerava-se ‘consumista de primeira linha’ antes de aderir pessoalmente às práticas que aplica na loja. A mudança de mentalidade a motivou de tal forma que outros projetos semelhantes foram se somando ao brechó e ao Trocadim. No estabelecimento, há um guarda-roupas compartilhado. Um acervo de cerca de 150 peças, principalmente roupas de frio ou para ocasiões sociais, fica à disposição dos interessados. Uma assinatura mensal garante ao cliente o direito de escolher as peças que quer usar e levá-las para casa, devolvendo após o uso. “Muita gente que viaja para o sul do Brasil no inverno toma emprestado os casacos”, acrescenta Adriana.

Instalações da loja.

Empolgada com o interesse crescente nas trocas e empréstimos oferecidos pela loja, a empresária mexeu em suas prateleiras e separou uma delas para expor bijuterias e cosméticos que ‘sobravam’ em sua residência. Não demorou para que outras pessoas passassem a doar também estes tipos de produto. Nada ali é vendido. Ao comprar alguma peça no brechó, a cliente leva como brinde um brinco, pulseira, um batom.

Espaço para o conhecimento

A leitura, um hobby levado muito a sério por Adriana, também está representada na loja. O clube do livro segue lógica parecida, mas ainda mais simples. Quem quiser levar para casa um dos livros disponíveis na prateleira, tem de deixar outro no lugar. Todo esse mix de ideias é divulgado com frequência pela empreendedora pelas redes sociais. Desenvolta, Adriana faz vídeos, fotos e lives para estreitar seu relacionamento com a clientela.

Frases e livros disponíveis aos clientes na loja.

E a responsabilidade ambiental? Adriana excluiu a produção de sacolas plásticas do seu negócio e conta com a doação de fornecedores para deixá-las à disposição para quem quiser. Há quem traga a própria sacola também. “Estudei sobre moda sustentável, li bastante e minha cabeça foi mudando. Não trabalho só para ter renda, ter dinheiro. A sustentabilidade mudou minha visão em todas as áreas da minha vida. Este espaço aqui me transformou”, completa a empresária.

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