Os variados desafios impostos aos micro e pequenos empreendedores levaram a equipe técnica do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) a aprimorar cada vez mais as estratégias relativas à eficiência energética, gestão de resíduos sólidos e da água. Percebeu-se, com o tempo, que o eixo básico da sustentabilidade deveria receber um tratamento mais específico dependendo das demandas e setores envolvidos.
“O CSS tem diversificado muito sua linha em todos os ramos de negócios. No site, por exemplo, encontram-se dicas para bares, restaurantes, padarias, oficinas mecânicas, cabeleireiros, ou seja, todo tipo de pequenos negócios. Os conteúdos conceituais valem para todos, mas as práticas em si têm mudanças. O que é feito numa oficina mecânica, não vale para um salão de beleza, por exemplo”, explica o jornalista Dal Marcondes, que compõe o comitê de especialistas do CSS.
Com 40 anos de dedicação ao jornalismo econômico e 20 apenas em sustentabilidade, Marcondes é um antigo parceiro do CSS e testemunhou o aperfeiçoamento da linha de atuação do centro. A noção de que dá lucro racionalizar o uso da água e energia e dar destinação correta ao lixo é generalizada, mas as características particulares exigem um olhar mais apurado por parte dos orientadores, que são constantemente capacitados para isso.
Como exemplo, o especialista cita o setor rural, que vem sendo prestigiado pelo Sistema Sebrae com cursos voltados às cadeias produtivas e novos arranjos sustentáveis. A cadeia do leite é uma delas. “A vantagem do Centro Sebrae de Sustentabilidade é que vem introduzindo conteúdos de interesse para a maior parte dos negócios. É notável a capacidade do CSS em estar sempre na vanguarda do processo de sustentabilidade para pequenas empresas, porque mostra o empenho da equipe que trabalha na instituição em manter a relevância desses temas para o sistema”, acrescenta.
O desenvolvimento de conteúdos e sua adaptação de acordo com realidades locais abrange também o trabalho dos interlocutores da rede CSS espalhados pelo país.
Interlocutor da regional do Vale do Açú (RN), Fernando Sá, tornou-se um profundo conhecedor dos sistemas de gestão e reaproveitamento de água, um dos eixos essenciais do conceito de sustentabilidade. A característica da região em que ele atua – semiárido potiguar – adiciona um caráter de urgência à questão. A estrutura teórica e prática necessária para o seu conhecimento foi contemplada com o curso de formação em sustentabilidade, realizado em abril de 2012 em Cuiabá.
Foi o ‘divisor de águas’ que o preparou para compartilhar com os empresários de pequenos negócios os conteúdos sustentáveis que, na visão de Fernando, deixaram de ser apenas importantes e passaram a ser fundamentais. “Percebemos uma mudança positiva entre os empresários. Inicialmente chegávamos com a mensagem do pilar econômico, mostrando que ser sustentável era rentável. Posteriormente fomos mostrando que se trata de uma questão de ética”, explica. A regional coordenada por Fernando abrange 19 municípios “cravados no sertão, mas com o mar por perto”, como ele define.
A proximidade com o oceano, como é equivocado supor, não alivia a situação de escassez hídrica. Usar de forma racional e consciente este recurso não é uma opção, é uma questão de sobrevivência também para qualquer empreendimento, especialmente aos de pequeno porte. Este cenário significa demanda constante para o interlocutor do CSS no estado, que divide sua função de gestor com a de palestrante e orientador de oficinas e consultorias. “Temos práticas locais que adotamos com base e orientação nos conteúdos do Centro Sebrae de Sustentabilidade, usando em várias linhas de atuação. A aplicação do conceito é sempre transversal, interna e externamente”. A regional do Sebrae no RN está envolvida na formatação de um projeto em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional no qual um dos pilares é o reuso da água, o bem mais precioso do planeta e uma questão prioritária para o dia a dia de Fernando.
Resultados chegam rápido para Yasmin
Visitar o Centro Sebrae de Sustentabilidade abriu o campo de visão da empresária Yasmin Rojas Fonseca, que já nutria há um bom tempo o interesse de trabalhar com compostagem de resíduos sólidos, mas não sabia ao certo como começar e de que forma esta atividade geraria os resultados que ela imaginava. Engenheira civil, Yasmin tinha o hábito de fazer compostagem em casa e passou a enxergar ali uma oportunidade de empreender. “Eu ouvi falar que o CSS fazia compostagem decidi ver isso de perto. Conheci também a parte burocrática e resolvi encarar”, resume a empresária, que inaugurou a Origem Compostagem em fevereiro de 2020. No local, Yasmin e mais dois colaboradores recebem o lixo orgânico recolhido de casas, apartamentos e de algumas pequenas empresas e transformam o material em adubo.
O processo é natural, utilizando, por exemplo, palha e poda de grama, com controle de umidade e temperatura. O adubo ‘fininho’, como define Yasmin, é devolvido para o cliente. Com pouco tempo de atuação, a empresa já conta com cerca de 180 clientes. O rápido crescimento fez com que Yasmin procurasse consultorias no Sebrae Mato Grosso nas áreas financeira e de marketing.
O compromisso com o meio ambiente é amplamente atendido, uma vez que parte do adubo produzido é doado para a agricultura familiar. Apenas em 2020, a Origem Compostagem evitou o envio de 61 toneladas de resíduos orgânicos para o chamado ‘lixão’ na capital de Mato Grosso, Cuiabá.