Mesmo com os avanços tecnológicos das últimas décadas, os equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos de 50 anos atrás costumavam durar muito mais que os equipamentos atuais, por mais que possuíssem uma tecnologia limitada. Por que, então, mesmo com tanta evolução tecnológica, as empresas ainda não são capazes de criar produtos duradouros que não apresentem tantos defeitos?
A resposta para esse questionamento pode ser encontrada em duas palavras: obsolescência programada. Esse termo se refere a uma estratégia de marketing que impulsiona a sociedade de consumo. De forma mais simples, é a imposição de uma curta durabilidade para determinados produtos ainda quando estão em processo de produção, de modo que o consumidor brevemente tenha de trocar o produto defeituoso por um novo.
Além disso, muitas marcas e empresas, ao se preocuparem apenas com a geração de receita, implementam estratégias de mercado que visam influenciar as percepções dos clientes e sua forma de consumir, ao normalizar o consumo inconsciente e fomentar a ideia de sobreposição do “ter” ao “ser”, o que produz não só carências e desejos, como também, sociedades materialistas que consomem de forma impulsiva.
Essa estratégia é chamada de ‘obsolescência perceptiva’ ou percebida, que diferente da obsolescência programada, não se refere à real durabilidade do produto, mas sim, à forma como o produto é percebido como “ultrapassado” no mercado, mesmo que ainda esteja em perfeitas condições para uso.
É importante ter em mente que a obsolescência, seja programada ou percebida, não ocorre apenas com os produtos eletrônicos. Na indústria da moda, por exemplo, as tendências “fast fashion” popularizaram um padrão de consumo incessante, onde o que é “tendência” se altera a todo momento, o que faz com que a linha de chegada do conceito de “fashion” esteja distante da maior parte da população.
Outra questão é que para produzir produtos em grande escala, com preços acessíveis e de forma rápida, a saída encontrada por grandes empresas é fabricar peças de baixa qualidade, e que por consequência, possuem pouca durabilidade, atendendo apenas uma necessidade momentânea e sendo descartadas rapidamente em seguida.
Isso traz à tona a dificuldade em lidar com os impactos sociais e ambientais negativos associados ao consumo contínuo de novos produtos, devendo levar-se em conta não só os impactos para produção dos produtos, mas também os impactos do descarte desses produtos ao fim de sua vida útil. E, o Brasil se destaca como o quinto maior gerador de resíduos eletrônicos, conforme relatório do ‘The Global E-waste Monitor’, com apenas 3% desses resíduos sendo reciclados.
A estrutura predominante de consumo no mundo segue um modelo linear, onde os produtos são adquiridos, utilizados e descartados, o que gera comportamentos insustentáveis e dificulta a reintrodução de matérias-primas na cadeia de produção.
Diante desse problema global, a ONU estabeleceu “assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis” como uma meta fundamental na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
É crucial compreender que esses desafios estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os relacionados ao consumo responsável, à vida terrestre e às parcerias para atingir os objetivos. Neste contexto, o Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) promove iniciativas que apoiam e implementam esses ODS, incentivando práticas sustentáveis nas empresas e na sociedade.
O CSS orienta empresários interessados em adotar práticas de economia circular a explorar oportunidades e estratégias de gestão de resíduos. Dentre os setores abrangidos por esse conceito, destacam-se os brechós, a produção de artigos e brinquedos com materiais alternativos, a mineração de metais e a compostagem, entre outros. O CSS disponibiliza recursos informativos de alta qualidade para promover e apoiar essas iniciativas regenerativas.
É de suma importância rever conceitos e se atentar a todos os impactos e alertas que o planeta tem nos demonstrado certamente vão afetar a existência humana. Por isso, todas essas ações voltadas à sustentabilidade, não dizem respeito a uma tentativa de salvar a Terra, mas sim, de nos salvar de nós mesmos.
Taylla Brito é acadêmica de Tecnologia da Informação e Marketing Digital, atualmente atua como estagiária do Centro Sebrae de Sustentabilidade.
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